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Londrina e Operário, as sensações que marcaram sua história no Brasileirão de 1977

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Nos dias atuais parece inacreditável, mas no Campeonato Brasileiro de 1977 (que se estendeu pelo início de 1978) um clube do Mato Grosso do Sul e outro do interior do Paraná se colocaram juntos – cada qual com seu mérito e ambos derrubando gigantes do futebol brasileiro – entre os quatro melhores times do país. Há 40 anos, as grandes campanhas do Operário de Campo Grande e Londrina no torneio nacional impressionaram o Brasil e entraram para a história da competição. Elencos até hoje venerados pelas duas torcidas, que permanecem figurando entre os melhores no passado “alternativo” do Brasileirão

Havia diferenças gerais entre os dois clubes. O Operário, por um lado, sustentava uma equipe de medalhões e que dominava o então Campeonato Mato-Grossense a partir da adoção do profissionalismo. O Londrina, por sua vez, confiava mais em jovens promessas, sem a mesma badalação dentro de seu estado, mas ascendendo no torneio nacional. Em comum, o cartel respeitabilíssimo ao longo daqueles meses entre 1977 e 1978, com várias camisas pesadas ficando pelo caminho – apesar dos atalhos distintos dentro do regulamento. Nas semifinais, acabaram não resistindo a São Paulo e Atlético Mineiro, o que não diminui as façanhas que escreveram. Hora de relembrar:

O REGULAMENTO

Antes de contar a trajetória das duas surpresas daquele Brasileiro, é preciso explicar o regulamento em detalhes – afinal, estamos falando de futebol nacional dos anos 70. O campeonato daquele ano contou com 62 equipes, divididas na primeira fase em seis grupos: quatro com 10 e dois com 11. O Operário ficou no A, ao lado dos gaúchos Internacional, Grêmio, Caxias e Juventude, dos paranaenses Coritiba e Grêmio Maringá, dos catarinenses Joinville e Avaí e do Dom Bosco de Cuiabá. Já o Londrina foi colocado no D, ao lado dos cariocas Vasco e Botafogo, da dupla campista Americano e Goytacaz, dos goianos Goiás, Vila Nova e Goiânia, do Atlético Paranaense e do Brasília.

Ao fim da primeira fase, os cinco melhores de cada um dos grupos avançavam para os chamados grupos “de vencedores”, nos quais eram redistribuídos em seis grupos de cinco equipes, das quais as três melhores avançavam para a terceira etapa. Os que ficaram da sexta colocação para baixo iriam para a repescagem, na qual enfrentavam novamente os adversários do grupo valendo uma vaga em cada chave para a fase seguinte. Assim, 24 equipes disputariam a terceira fase, divididas em quatro hexagonais, classificando-se um de cada para as semifinais – única etapa com jogos em ida e volta em todo o campeonato – e então a decisão, em jogo único, na casa da equipe com melhor campanha.

Por fim, havia uma peculiaridade, vigente nos Brasileirões entre 1975 e 1978: num tempo em que as vitórias valiam dois pontos, os triunfos por mais de um gol de diferença (fosse por 2 a 0 ou 6 a 0) davam ao ganhador um ponto extra.

OPERÁRIO

Fundado em 1938 por trabalhadores da construção civil (daí o nome), o Operário Futebol Clube, de Campo Grande, só se profissionalizou no início da década de 1970, passando a disputar o campeonato do Mato Grosso – que na época era um estado só, antes do desmembramento do sul, definido em outubro de 1977, mas só reconhecido oficialmente com estado em janeiro de 1979. Rapidamente, o Galo se colocou como uma das forças do estado, conquistando o estadual de 1974 e mais tarde o tri em 1976/77/78.

No mesmo ano em que levantou seu primeiro estadual, fez sua estreia no Campeonato Brasileiro, no lugar do rival Comercial, que participou da edição anterior. Fez boa campanha na primeira fase (sétimo colocado numa chave com 20 clubes, à frente de Corinthians e Palmeiras) e conseguiu avançar para a etapa seguinte. Acabou num bom 17º lugar entre 40 participantes. Depois de ver outra vez os comercialinos representarem o estado no Brasileiro seguinte, o time voltou à disputa em 1976.

Naquele ano, o técnico era Carlos Castilho, ex-goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, que iniciou a caminhada do tri estadual vencendo o primeiro título e fez bom papel no Brasileiro. Castilho saiu para dirigir o Internacional no começo de 1977,, sendo substituído por outro ex-jogador de Seleção, o “Príncipe” Danilo Alvim. Com ele, o time venceu os três turnos do estadual e levantou o bi. Mas logo depois da conquista, ele foi contratado pelo America do Rio. Para o posto, retornou Castilho, que não havia tido sucesso em Porto Alegre, mas contava com a confiança e o apoio dos operarianos.

Na primeira fase, o time já demonstrou competitividade: estreou segurando o próprio Inter, bicampeão brasileiro, num empate em 0 a 0 no estádio Pedro Pedrossian, e terminou em quarto lugar na chave, atrás apenas da dupla Gre-Nal e do Grêmio Maringá, campeão paranaense. Mas a torcida ainda parecia cética. Até o clube anunciar, perto do fim daquela etapa, um novo reforço: o veterano goleiro Manga. Recém-dispensado pelo Inter, o arqueiro já quarentão foi recebido com festa em Campo Grande e tratou de responder aos cartolas colorados: “O fenômeno ainda é o Manguinha”, bradou na apresentação.

Manga estreou na penúltima partida da primeira fase, em 23 de novembro, um empate em 3 a 3 com o Caxias no estádio Centenário. Na partida seguinte, contra o Grêmio de Telê Santana no Olímpico, outro grande resultado: os mato-grossenses saíram na frente, sofreram a virada para 3 a 1, mas mesmo fora de casa reagiram e empataram, graças a um gol antológico de bicicleta de Everaldo aos 41 minutos da etapa final. Com seis gols sofridos nos primeiros dois jogos, o desempenho inicial do veterano arqueiro gerou questionamentos. Mas ele os respondeu fechando o gol pelo resto do campeonato: nas dez partidas seguintes, seria vazado apenas em quatro, sendo três fora de casa.

O restante do time titular era muito bem definido e coeso, o que ajudou na regularidade da campanha. A defesa começava com o lateral-direito Paulinho, há muitos anos no clube. Escurinho, irmão mais novo do centroavante de mesmo apelido do Internacional e vindo do próprio time gaúcho, era o lateral-esquerdo. A dupla de zaga contava com o central Biluca, trazido do America do Rio em troca por Heraldo (da mesma posição), e o experiente quarto-zagueiro Silveira, ex-Fluminense, quatro vezes campeão carioca e uma vez do Torneio Roberto Gomes Pedrosa.

No meio-campo, havia um volante fixo – primeiro Dito Cola, depois Édson – fazendo a cobertura do setor defensivo. Daí para a frente, todos os demais jogadores tinham perfil mais ofensivo: meia-armador talentoso, Marinho (ex-Colorado-PR) conduzia as jogadas ofensivas. Mais à frente, jogava Roberto César, emprestado pelo Cruzeiro. Centroavante de origem, atuava um pouco mais recuado, como ponta de lança, aproveitando seu bom passe. Na frente, o trio era formado pelo ponta-direita Tadeu (outro camisa 9 deslocado de função), o centroavante Everaldo e o ponta-esquerda Peri, veloz e driblador.

 

Na segunda fase, em tese, a disputa se acirraria: o Operário teria de brigar por uma das três vagas com dois timaços: o Botafogo de Paulo César Caju, Mário Sérgio, Gil, Mendonça, Bráulio, Nilson Dias e outros grandes jogadores e o Fluminense ainda com resquícios da Máquina Tricolor, contando com Rivelino, Doval, Edinho, Pintinho e Marinho Chagas. Havia ainda um ascendente Botafogo de Ribeirão Preto, comandado por um jovem talento de nome Sócrates. Correndo por fora, vinha o CSA, que endurecera seus jogos na primeira fase, mas não tinha grandes chances.

O Operário estreou com um resultado ruim: empate sem gols ao receber o Botafogo paulista, e foi dado como virtual eliminado. Mas reagiu já na partida seguinte, vencendo o Fluminense em casa por 2 a 1. Faltavam os dois jogos fora de casa. No primeiro, Manga reencontraria o seu velho Botafogo no Maracanã. O empate em 1 a 1 foi surpreendente e recolocou a equipe de vez como candidata à classificação. A confirmação da vaga viria no último jogo, vitória por 2 a 0 sobre o CSA em Maceió que deixou a equipe com os mesmos sete pontos do líder Botafogo carioca, mas atrás apenas no número de gols marcados.

Na terceira fase, a equipe de Castilho foi incluída no Grupo V, que tinha como grande favorito o Palmeiras de Leão, Marinho Peres, Beto Fuscão e Jorge Mendonça, invicto até ali. A segunda força do grupo, junto com o próprio Operário, era o Santa Cruz, dirigido por Evaristo de Macedo e que tinha no elenco Givanildo, Betinho, Fumanchu e Nunes. Um pouco mais abaixo vinha um perigoso time do America do Rio, que na fase anterior passara sem derrota por um grupo com Inter, Corinthians e São Paulo. Remo e Desportiva eram os azarões, mas com chance de aprontar – especialmente o primeiro.

Como na fase anterior, outra vez o Operário estreou parando num 0 a 0 em casa, agora com o Santa Cruz. No dia 12 de fevereiro veio o jogo com o Remo em Belém, interrompido sem abertura do placar aos 25 minutos do primeiro tempo depois que parte do alambrado do estádio Evandro Almeida cedeu. Enquanto se desenrolava o imbróglio a respeito da nova partida, o Operário goleou a Desportiva em casa (5 a 0) e bateu de modo categórico o America dentro do Maracanã (2 a 0), vitórias que renderam seis pontos.

O jogo com o Remo chegou a ser remarcado para o campo neutro de São Januário, já que o Evandro Almeida não oferecia condições de segurança (e ambos os clubes vinham de partidas próximas no Sudeste). Mas, depois de pressão do senador paraense Jarbas Passarinho, acabou disputado mesmo para Belém, no ainda não inaugurado Mangueirão. Os azulinos venceram por 2 a 0, mas escalaram irregularmente o meia Mesquita, motivando o Operário, antes mesmo da última rodada, a entrar com mandado de segurança na CBD pleiteando os pontos do jogo.

Entretanto os dirigentes acabaram desistindo do recurso depois que o clube mato-grossense conseguiu sua vaga em campo, de modo um tanto dramático: o time vencia o Palmeiras – que também entrou naquela rodada com chances de classificação – por 2 a 0 em Campo Grande e somava três pontos, indo a 10. Entretanto, o Santa Cruz também derrotava o Remo no Arruda pelo mesmo placar e chegava aos 11. Até que Mesquita, o jogador de escalação contestada, descontou para os remistas no último minuto, fazendo os pernambucanos perderem um ponto em sua vitória. Com o empate na pontuação, o Operário avançou às semifinais pelo melhor saldo de gols.

O adversário seria o São Paulo de Rubens Minelli, vencedor dos dois Brasileirões anteriores pelo Internacional. O experiente treinador tinha nas mãos um elenco com limitações, mas com jogadores capazes de decidir, como o centroavante Serginho. No primeiro jogo das semifinais, em 26 de fevereiro num Morumbi lotado com mais de 103 mil torcedores (recorde do campeonato), o Tricolor teria grande dificuldade para abrir o placar.

Só mesmo aos 31 minutos da etapa final, numa jogada ensaiada, o camisa 9 balançou as redes. Aos 41, em lance polêmico, Bezerra cruzou para a área, a defesa do Operário parou e o meia Neca (que havia entrado no lugar de Darío Pereyra) completou em posição duvidosa, anotando o segundo gol. Pela reclamação, o lateral Escurinho acabou expulso. No fim, aos 47, Serginho desviou de cabeça na primeira trave uma cobrança de escanteio e completou um placar bem mais confortável do que foi o jogo.

O Operário, entretanto, levantou a cabeça e venceu o jogo de volta no Pedro Pedrossian por 1 a 0, gol do ponteiro Tadeu, antecipando-se à marcação para desviar um cruzamento da direita para as redes. O placar não foi suficiente para levar o clube à decisão (que já garantiria uma vaga na Taça Libertadores da América), mas serviu para encerrar numa nota alta, batendo mais um grande, uma campanha histórica: terceiro colocado com 10 vitórias, seis empates e apenas quatro derrotas, permanecendo invicto em casa.

Depois dela, o clube voltaria a fazer bom papel no Brasileiro em outras edições, como em 1979, 1981 (caindo nas quartas de final para o futuro campeão Grêmio), 1982 e 1984 (chegando às oitavas de final nestes dois). Mas, ao longo da década de 90, progressivamente perderia força até mesmo dentro do estado. De 1992 para cá, levou apenas o bi estadual em 1996 e 97, e chegou a ser rebaixado e a desistir de participar do torneio por problemas financeiros. Hoje, tenta se reerguer no futebol local e regional.

LONDRINA

O Londrina, por sua vez, estreou no Brasileirão em 1976 na condição de primeiro clube do interior paranaense a disputar a competição. Fez, no entanto, campanha para lá de discreta: quinto colocado entre nove equipes em seu grupo na primeira fase, foi jogado para a repescagem e por lá ficou, somando quatro derrotas nos quatro jogos. Num campeonato com 54 equipes, terminou numa não muito lisonjeira 49ª colocação. Ainda que o convite para o certame do ano seguinte tivesse sido mantido, as expectativas não eram muito boas. Pior: o eterno rival Grêmio Maringá se sagraria campeão estadual em 1977 – enquanto o Londrina sequer chegara ao quadrangular final – e também disputaria o torneio nacional daquele ano.

Na busca por explicações para o desempenho tão ruim no Brasileirão do ano anterior, a diretoria do Londrina – que contratara vários jogadores rodados no intuito de fazer bom papel em sua estreia na competição – resolveu mudar de estratégia: privilegiaria agora jogadores jovens (de preferência os formados no próprio clube), em busca de afirmação, completando a equipe com alguns nomes mais veteranos. No comando, o experiente técnico argentino Armando Renganeschi, campeão carioca com o Flamengo em 1965, mas de carreira desenvolvida especialmente em clubes pequenos e interioranos.

Diferentemente do Operário, que manteve trajetória mais regular ao longo das várias fases do campeonato, o Londrina começou mal. As duas vitórias de saída (3 a 2 no Goiânia e 3 a 1 no Vila Nova-GO) chegaram a alimentar a ilusão de que o Tubarão poderia ombrear com os gigantes da chave, Botafogo e Vasco. Mas aqueles acabaram sendo os únicos triunfos da equipe naquela etapa: no jogo seguinte, o time foi batido em casa pelo Goytacaz (2 a 1) e somou apenas três pontos pelos seis próximos jogos, terminando numa modesta oitava colocação entre dez equipes. Com a repescagem no horizonte, o clube se via repetindo a campanha fraca do ano anterior. Mas, surpreendentemente, foi onde engrenou.

As idas e vindas da fase inicial adiaram a formação de um time-base, levando Renganeschi a testar vários jogadores. Além disso, assim como no caso do Operário, alguns reforços foram trazidos com o campeonato em pleno andamento. A camisa 1 chegou a ser vestida por quatro goleiros diferentes ao longo dos 20 jogos. Mas a partir da repescagem, a equipe começou a ter os titulares mais ou menos definidos para o restante da competição, dentro do esquema 4-4-2 utilizado pelo treinador, e enfim deu liga.

Dos quatro goleiros, o que acabou se firmando foi Paulo Rogério, ex-juvenil do Corinthians. A linha defensiva tinha os laterais Claudinho (ex-Matsubara) e Dirceu (cria da base), além dos zagueiros Carlos e Arenghi, este um dos nomes mais experientes do elenco, vindo da Portuguesa. No meio-campo, o volante Zé Roberto atuava plantado à frente da defesa, tendo como auxiliar o dinâmico Ademar. Os pontas eram Xaxá (outro ex-Portuguesa, campeão paulista em 1973), que jogava recuado pela direita, ajudando o meio, e Nenê, trazido do Atlético-PR, que tinha mais liberdade para atacar. Já os dois homens de frente foram os grandes destaques daquela campanha.

Outro ex-juvenil corintiano, Carlos Alberto Garcia já estava no clube desde o início do ano. Centroavante habilidoso, bom na retenção de bola, mas também manhoso e cavador, já despontava como nome querido da torcida pouco antes do início do Brasileiro. Para a competição nacional, no entanto, o clube acabou trazendo outro jogador para a posição: Brandão, atacante rodado, com passagem inclusive pelo próprio Operário, chegou do Matsubara e encontrou Garcia como dono da camisa 9. Mas, graças ao esquema de Renganeschi, tornou-se seu parceiro, em vez de rival pelo posto. De futebol mais elegante e faro de gol inquestionável, completou perfeitamente o estilo do companheiro de ataque.

Havia ainda outras peças importantes, às quais Renganeschi recorreu ao longo da campanha. Para o primeiro jogo da repescagem, novamente contra o Goiânia no Estádio do Café, o time sofreu algumas baixas por lesão ou suspensão (caso de Brandão, expulso num jogo da primeira fase). Os desfalques obrigaram o técnico a lançar mão, pela primeira vez no torneio, de um garoto de chute forte surgido na base para preencher o meio-campo. Éverton, o tal garoto, correspondeu marcando três gols na vitória por 4 a 1. Não permaneceria como titular pelo resto da campanha, mas começaria a despontar numa carreira que o levaria ao Guarani, São Paulo, Atlético Mineiro e Corinthians.

A boa vitória foi seguida por um revés que quase complicou os planos da equipe: derrota em casa para o Atlético Paranaense por 3 a 2. Era preciso vencer os dois jogos seguintes, contra Vila Nova e Goiás, ambos no Serra Dourada, para conseguir a vaga. E o time cumpriu a missão: bateu o primeiro por 1 a 0, gol de Xaxá, e o segundo por 2 a 1, com Brandão, de volta ao time, anotando os dois. A euforia pela classificação – aliada à eliminação do rival Grêmio Maringá, que na primeira fase classificara-se para um grupo de vencedores na etapa seguinte – durou pouco quando todos no clube tomaram conhecimento da chave que os aguardava na terceira fase, a ser disputada já a partir do fim de janeiro de 1978.

Em ordem alfabética: primeiro havia o Caxias, que embora ostentasse uma das melhores equipes de sua história (tendo na zaga um certo Luís Felipe Scolari), também era considerado azarão. Depois havia o Corinthians, recém-saído de seu doloroso jejum de 23 anos no Paulistão graças ao pé abençoado de Basílio. Não era um time de grandes astros, mas vinha embalado e com o moral nas nuvens. O próximo era o Flamengo, que acabara perder o Carioca para o Vasco, mas tinha um timaço (Zico, Júnior, Carpegiani, Adílio, Cláudio Adão e o pequenino Osni) prestes a despontar.

Havia o Santos, também com muitos dos Meninos da Vila que estourariam em breve, mas ainda ancorado por nomes experientes como Clodoaldo, Carlos Roberto e Aílton Lira. E, por fim, havia o Vasco, campeão carioca com campanha irretocável e um dos principais candidatos ao título nacional. No time de Orlando Fantoni, brilhavam nomes como Roberto Dinamite, Dirceu, Orlando Lelé, Abel e Marco Antônio. Diante do cartel dos adversários, nem mesmo o mais fanático torcedor londrinense imaginava que o clube pudesse brigar por algo além da quinta colocação – além de comemorar as grandes rendas que qualquer um dos gigantes de Rio e São Paulo proporcionariam em sua visita ao Estádio do Café.

Na hora da largada, porém, quem disparou foi o Londrina. Somou três pontos ao vencer o Caxias em casa por 2 a 0, enquanto os clássicos carioca e paulista terminavam em empates. No jogo seguinte, novamente no Estádio do Café, o Tubarão papou seu primeiro gigante: 1 a 0 no Flamengo. Após a pausa do Carnaval, foi a vez de ir ao Pacaembu e derrubar o Santos: 2 a 1. Quatro dias depois, de volta a casa, despachou o Corinthians com a ajuda de um ex-alvinegro: 1 a 0, gol de Carlos Alberto Garcia. Enfim, em 19 de fevereiro, viria o jogo mais marcante daquela campanha, contra o Vasco em São Januário.

Naquela altura, somente os cruzmaltinos, ainda tinham chance de acabar com a festa do Londrina, caso vencessem o confronto direto por pelo menos dois gols de diferença (e, portanto, somando três pontos). Após a guerra de nervos da semana que antecedeu a partida, o jogo foi tumultuado antes, durante e depois da bola rolar. Jogando em seu estilo habitual, fechado e de saída rápida nos contra-ataques, o Londrina começou a calar os mais de 40 mil vascaínos – recorde ainda vigente de público da história do estádio – quando Brandão recebeu lançamento de Xaxá e tocou na saída de Mazarópi.

O Vasco foi todo para cima, mas a reação parou numa atuação brilhante do goleiro reserva Mauro, substituto do suspenso Paulo Rogério – e ironicamente ex-jogador cruzmaltino. No segundo tempo, o time da casa sofreu o segundo gol, com Carlos Alberto Garcia completando cobrança de falta do lateral Dirceu na área. Irritada, a torcida vascaína atirou inúmeros objetos no gramado (uma garrafa atingiu a cabeça do lateral Orlando, do próprio Vasco), e dirigentes e seguranças do clube carioca agrediram seus colegas londrinenses. Mas nada disso impediu a vitória histórica e a classificação do time paranaense.

O Londrina foi o único time a vencer seus cinco jogos naquela fase. E justo num grupo considerado impossível. Mas nas semifinais, outra parada dura aguardava pelo Tubarão: um fabuloso Atlético Mineiro, dirigido por Barbatana, e no qual despontavam nomes como Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro, Ângelo, João Leite e Marcelo Oliveira. De seus 18 jogos até ali, o Galo havia vencido 16 (sendo 11 por dois ou mais gols de diferença) e empatado apenas dois. Era esse retrospecto que os paranaenses teriam de superar.

Na partida de ida, no Mineirão, o Atlético abriu 2 a 0 no primeiro tempo com Ziza cobrando pênalti de Carlos em Reinaldo e depois com o próprio Reinaldo, de cabeça, num frango de Paulo Rogério. Na etapa final, o Londrina começou a reagir e descontou com Brandão. O Galo foi à frente e marcou o terceiro, novamente com Reinaldo concluindo jogada de Ziza. Mas o Tubarão voltou a assustar anotando seu segundo em cabeçada de Carlos Alberto Garcia. No fim do jogo, porém, os mineiros mantiveram a vantagem de dois gols depois que Reinaldo fez seu terceiro no jogo (e seu 28º no campeonato, em 18 partidas), fechando o placar em 4 a 2.

Na volta, na noite de quarta-feira, 1º de março de 1978, o Estádio do Café lotou para empurrar o Londrina, mas o Galo praticamente selou a classificação no primeiro tempo, abrindo 2 a 0 com gols de Caio Cambalhota (o substituto do suspenso Reinaldo) de cabeça aos 17 minutos e do ponta Serginho aos 33. Os donos da casa descontaram aos 43 com Brandão numa falha da defesa atleticana e recobraram o ânimo para o intervalo. Na volta, chegaram ao empate com Ademar logo no primeiro minuto e pressionaram até o fim, mas não conseguiram derrubar o time mineiro, encerrando ali uma campanha também histórica.

Nos anos seguintes, o Londrina brilhou com menos frequência que o Operário no Brasileiro. Fez bom papel em 1979 (19º colocado) e em 1982, chegando às oitavas de final em sua última participação. Venceu a Taça de Prata (espécie de Série B) em 1980, que valeu a vaga na elite no ano seguinte, mas a campanha de 1981 foi vexatória (lanterna de seu grupo e antepenúltimo colocado no geral), compensada apenas com a conquista de seu segundo estadual no fim do ano, encerrando jejum de 19 anos.

Depois disso, entre os grandes do país, teria destaque apenas na Copa do Brasil de 1993 – quando curiosamente eliminou o Operário-MS na primeira fase, antes de derrubar o Internacional nas oitavas e cair para o Flamengo nas quartas – e, mais recentemente, na Primeira Liga de 2017, a qual conquistaria depois de deixar pelo caminho Fluminense e Cruzeiro, tendo enfim na decisão sua revanche contra o Atlético-MG, depois de quase quatro décadas de espera.

fonte trivela.com.br