‘Se uma vida está em risco, não se deve fazer jogo de futebol’, avalia Juca Kfouri’

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Jornalista critica partidas sem torcedores nos estádios: ‘Torcedor, a razão de ser do futebol’

O jornalista e escritor Juca Kfouri comentou o processo de retorno do futebol brasileiro em meio à pandemia de coronavírus e falou do sentimento diante da ausência dos torcedores nas arquibancadas dos estádios. Na avaliação do comunicador, há uma discordância grande manter as partidas suspensas e os shoppings centers abertos.

“Está sendo feito com todos os cuidados possíveis e imagináveis, com todos os protocolos e tudo mais. É difícil ter um posição contra a volta do futebol quando você tem shoppings abertos, atividades não-essenciais funcionando. E aí você pensa, por que não o futebol? Mobiliza tanta gente, até o entretenimento para ajudar as pessoas em casa com o que se distrair. É possível tomar cuidados de segurança que outras atividades não se tomam. Acontece que eu acho o seguinte: dado o fato do futebol não ser uma atividade essencial e, por mais que a gente entenda a dificuldade e necessidade de faturamento dos clubes, embora justifiquei agora a situação em função da pandemia quando isto não é verdade, parecendo o ministro Paulo Guedes, que disse que o Brasil estava em vias de decolar antes da pandemia e que a pandemia agravou, um azar de nossa situação, o fato é que nada justifica, em torno de um jogo de futebol, que você ponha uma vida em risco”, disse Juca, em entrevista a Mário Kertész na Rádio Metrópole hoje (30).

“Se uma vida está em risco por causa de um jogo de futebol, você não deve fazer o jogo de futebol. Você não pode evitar vidas em risco do pessoal da saúde pública, dos hospitais, dos supermercados, dos transportes e uma porção de área de atividades que têm que correr o risco. No jogo de futebol não se justifica, é assim que eu vejo, ainda mais num país que não atingiu sequer o topo de sua curva, diferente do que aconteceu com países europeus que voltaram com o futebol”, comentou.

Questionado pela jornalista Malu Fontes, que também é comentarista da Metrópole, Juca falou sobre a experiência “chata” de ver jogos de futebol sem a presença dos torcedores. “Vamos ter que nos adaptar a essa coisa chata, que é igual a chupar bala com papel, que é ver jogos de futebol sem torcida. Por mais que existam recursos virtuais, com som de torcida nas transmissões e som de torcida em alto-falante, o calor humano do torcedor faz uma falta terrível para o jogo, quem joga e quem assiste. Isso equilibra muito tecnicamente a qualidade dos jogos”, disse Kfouri.

O jornalista fez uma avaliação desta ausência nas partidas entre Bahia e Confiança, no Nordestão, e São Paulo e Mirassol, no Campeonato Paulista. “A gente tem visto isso, vimos a dificuldade que o Bahia encontrou para ganhar do Confiança, na bacia das almas aos 42 minutos do segundo tempo. Ontem o São Paulo foi eliminado pelo Mirassol, sendo que não é apenas um clube pequeno. Durante o período da pandemia, o Mirassol perdeu 18 jogadores. Reuniu um catado, veio ao Morumbi e ganhou do poderoso soberano São Paulo Futebol Clube de 3 a 2. Não tinha torcida, pressão e nada. Os clubes precisaram voltar e precisam voltar à atividade porque dependem dos direitos e do dinheiro de transmissão dos patrocinadores. Mas os clubes já vinham em situação pré-falimentar, com raríssimas exceções. Diga-se de passagem, o Bahia é uma delas” comentou.

“É um futebol com a falta do que é mais importante no futebol, que não é nem a bola, jogador ou treinador. É o torcedor, a razão de ser do futebol”, acrescentou.